Saturday, December 24, 2005

Trilho

Segui o rasto deixado pela correnteza revoltosa das lágrimas que brotaram do meu coração. O sofrimento fora só meu e explicava os sulcos profundos na terra vermelha causados pelo redemoinho louco da dor e que teimara cegamente em seguir quando menos esperava, apenas por ter recordado. O percurso que segui era um trilho sinuoso, caminho de ninguém que leva a sítio nenhum. O sulco original dividiu-se no tempo e repetiu-se na distância como se quisesse prolongar para o infinito a sua motivação, gerando filhos ricos no absoluto sofrimento.

É esse trilho que percorro ainda todos os dias à procura do seu ou do meu fim. Existem pálidos momentos em que creio, com sinceridade, que esse desejado momento depende apenas da força do meu crer.

Sebastião Rodrigo, Memórias de amanhã, 2001

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