Thursday, January 05, 2006

O sapato de David


Hoje fui nadar durante a hora do almoço. Na piscina quase vazia, ouvia, enquanto nadava, risos e vozes de vários deficientes que ali estavam, na pista extrema da piscina. Saí cansado da água e já com a piscina vazia. Após um duche rápido para voltar ao trabalho, até porque o dia ia ser longo, um dos deficientes que ficara atrasado no balneário, expressou um som incompreensível chamando a minha atenção para o nó cego do seu sapato que não conseguia deslindar.

Ainda molhado deparei-me a debater arduamente com o nó cego do sapato deste homem, enquanto este me olhava em silêncio com a expressão ansiosa de quem espera pelo resto da sua vida. Após várias e frustradas insistências, as minhas unhas começavam a ceder mais rapidamente do que o nó, que teimosamente persistia. Enquanto isso, o rapaz esperava em silêncio, até uma voz começar a chamar insistentemente à porta dos balneários: "David, então? Olha que já vamos embora!".

David não esmoreceu na sua espera, mantendo o olhar expectante. O nó foi finalmente vencido após a minha longa persistência. David ainda me pediu, no seu jeito desarticulado de falar sem nada falar, que lhe apertasse os sapatos. Coisa que fiz.

É terrível a dependência alheia. É terrível pensar que este homem nunca terá a sua. Só espero que tenha sempre alguém que lhe garanta a dignidade como ser humano dependente que é.

Não me esqueci

Não me esqueci do meu blog.
Não me esqueci de cada vir.
Apenas o tempo passa rápido.
Demasiado rápido para aqui escrever.