Friday, December 30, 2005

Perfeito

Desafios

Os desafios são muitos. Ir viver com a A. é se calhar o maior de todos eles. Como homem independente que sempre fui, habituado nos últimos a um perímetro físico de liberdade muito extenso, não sei se será fácil partilhar uma vida a 2. Essa liberdade para mim é fundamental. Foi curisoamente essa liberdade, que hoje permite que a nossa relação esteja de pé. Eu explico. Nos últimos anos, a minha namorada ou eu vivemos fora do país, ou deslocados um do outro em Portugal. A dificuldade da distância e das muitas zangas foi, da minha parte, amenizada com outras mulheres. Não é que fossem relações amorosas. Foram relações sexuais com amigas que muito serviram para descarregar os níveis de testosterona para fora da relação, perdurando-a, mas que serviram muito pelo prazer mútuo do sexo. Ainda retenho memórias frescas do cuzinho rijo da minha última amiga H. por terras de Eire. e dos seus fantáticos dotes orais de quem sabe o que faz.

Mas o que me importa agora é que depois de tantas e tantas discussões com a minha namorada, me veja agora a comprar casa com a pessoa que dista em muitos aspectos tanto do meu ideal de mulher. Não será justo afirmar isto de alguém para a qual eu sou o mais que tudo. Mas persisto, à porta de comprar e dividir casa com a minha namorada, como um macho alfa de qualquer alcateia, numa busca silenciosa mas atenta pela vizinhança feminina. Mas ao contrário de um macho alfa que procura apenas a preservação da espécie, eu procuro a oportunidade de infidelidade que permita preservar a circularidade da minha relação.

Ser ou não ser

Tempos novos se avizinham. O prenúncio de um ano novo renova em nós a vontade de mudança. Ano novo, vida nova. A mudança de ano exige sempre roupa nova, e vontade redobrada em conseguir ser no ano novo aquilo que quase sempre se quiz ser e raramente se conseguiu. Eu vivo essa vontade. É uma vontade de mudança serena. Não é uma vontade de assumir uma mudança insustentada desde o primeiro instante do novo ano, daquelas que só alteram as consequências de nós próprios, mas não alteram as causas em nós existentes. É uma vontade de mudar de vida sem mudar substancialmente nas consequências, mas sim uma vontade de alterar a génese da minha construção pessoal, por achar, neste momento e mais uma vez, que a vida me providenciou oportunidade para crescer e melhorar. Resta aproveitar e ser.

Tuesday, December 27, 2005

Garden State


Ontem vi o filme Garden State. Muito giro, por sinal. Passa ao largo do cinema de massas Hollywoodesco, e passa qualquer coisa, nem que não seja boa disposição que é coisa boa e isso agrada a todos. Mas passa mais, muito mais.

A Natalia Portman continua fantástica e a banda sonora é bastante boa, com Thievery Corporation, Zero7, etc.

Saturday, December 24, 2005

Trilho

Segui o rasto deixado pela correnteza revoltosa das lágrimas que brotaram do meu coração. O sofrimento fora só meu e explicava os sulcos profundos na terra vermelha causados pelo redemoinho louco da dor e que teimara cegamente em seguir quando menos esperava, apenas por ter recordado. O percurso que segui era um trilho sinuoso, caminho de ninguém que leva a sítio nenhum. O sulco original dividiu-se no tempo e repetiu-se na distância como se quisesse prolongar para o infinito a sua motivação, gerando filhos ricos no absoluto sofrimento.

É esse trilho que percorro ainda todos os dias à procura do seu ou do meu fim. Existem pálidos momentos em que creio, com sinceridade, que esse desejado momento depende apenas da força do meu crer.

Sebastião Rodrigo, Memórias de amanhã, 2001

Sempre

sempre que estiveres numa praia
na mão segurares um punhado de areia
e contemplares o mar diante de ti

verás a imensidão do meu gostar
a intemporalidade do meu cuidar
o meu sincero carinho por ti

Sebastião Rodrigo, 2000